Welcome to my life
"E sem perceber, eu criei uma enorme barreira em volta de mim para que ninguém a ultrapassasse, dentro dela só poderia haver a única pessoa que nunca me abandonaria, eu mesma.
Mas um dia, ouve alguém com ousadia o suficiente para ultrapassa-la. E a partir daí a minha vida se tornou um inferno".
SeuNome Collins - 21 P.M - New York
Vejo a porta do carro sendo aberta, e um sorriso triste vindo do motorista, tentando me encorajar a sair. Eu não queria, eu só queria poder sumir e fugir da realidade.
Mas aquela era a minha realidade.
Nesses dias a vida tem sido nada justa comigo, há poucas semanas eu não tinha do que reclamar da vida, tudo parecia perfeito. eu vivia uma vida de luxo com os meus pais, não me faltavam amigos ou garotos, eu me sentia feliz, vivia como se não houvesse um amanhã e não me preocupava com nada.
Mas então, aquele maldito acidente tinha que acontecer, e levar consigo tudo oque eu tinha de mais precioso, os meus pais.
Confesso que no início eu achava que não saberia viver sem eles, eu me via sem chão, sem rumo, era como estar presa em uma escuridão por toda eternidade, eu nunca superaria aquela dor. Mas eu tinha que aceitar o fato da vida estar sendo dura comigo dessa forma, eu precisava ser forte.
Como se não bastasse a dolorosa perda dos meus pais, a minha guarda foi passada para a minha tia, até que eu fosse maior de idade, ou seja, a minha vida será um inferno durante três longos anos, ótimo.
Eu não veria o menor problema em conviver com ela, se ela fosse daquelas tias normais que te ajudam a superar a morte dos seus pais e se torna uma segunda mãe. Mas o problema é que a minha tia não é nada normal, começando por sua idade mental que não deve passar dos três anos.
Sim, estamos falando de uma mulher de 34 anos, que se casou com um velho rico e hoje vive uma típica vida fútil, em que ela acorda ás 3 da tarde, passa a tarde no shopping com as amigas falando sobre o novo esmalte que entrou na moda após ser visto em uma celebridade, ou sapatos caríssimos, de todas as marcas, formas ou cores.
Por mais que eu não suporte esse tipo de vida não seria ao todo ruim morar com ela, eu até aguentaria ignorar suas roupas cheias de brilho que até me doem os olhos, ou sua voz "meiga demais" que me dá repulsa só de ouvi-la. mas o pior, é que não satisfeita em destruir a minha vida desde o minuto em que decidiu ficar com a minha guarda, o seu lado interesseira falou mais alto e ela prometeu a um velho fazendeiro rico, que assim que eu atingir a minha maior idade, eu me casaria com seu filho, um caipira grosso que não tem modos nem para se sentar a mesa.
Minha vida se tornou um inferno após isso, e eu a questionei todos os dias, perguntando porque diabos eu teria que entrar para o projeto de família buscapé por dinheiro, já que dinheiro nunca será problema naquela casa, suas respostas eram sempre secas e sem argumentos, mas pra mim ela queria me tornar alguém como ela, alguém que só casa por dotes e interesse.
E aqui estou eu, após virar a noite em uma interminável discussão com ela, e deixá-la completamente sem argumentos. fui mandada para o Hostelling International, o maior e mais conhecido internato de New York, aqui eu serei esquecida durante anos, até completar a maior idade e poder me libertar desse inferno. Sinto raiva, raiva de mim mesma por não ter impedido aquele acidente, raiva de meus pais por serem tão imprudentes e não tomarem cuidado com a própria vida, raiva dos meus amigos por me abandonarem, raiva da minha tia por não pensar em nada que não seja ela mesma, raiva do motorista por cumprir muito bem o seu trabalho e não me deixar fugir durante o percurso.
Eu estava em frente ao grande prédio, sem nenhuma coragem de sair do carro e fazer oque um dia terei que fazer, encarar a vida que daqui pra frente terei que levar, afinal o grande prédio era simplesmente o meu novo lar.
Encarei o homem a minha frente que me olhava impaciente, mas ao mesmo tempo com pena da situação em que eu me encontrava, não é todo dia que seus pais resolvem bater as botas, seus amigos interesseiros te abandonam, e você é forçada a viver em um internato estando intensamente debilitada.
Respirei fundo por umas três vezes, tentando acalmar o meu coração, pisquei os meu olhos várias vezes, e me levantei do carro, sentindo o meu estômago se revirar, Pisei na baixa e esverdeada grama, uma brisa passou por meus cabelos e braços, e fez com que um leve arrepio se passasse por meu corpo e eu cruzei os braços, me encolhendo em meio ao frio.
- Boa sorte... - disse o motorista, que até o momento não havia se pronunciado.
Não o respondi, eu estava naqueles momentos em que se eu falasse alguma coisa, acabaria chorando, e uma das piores sensações na vida é chorar diante de alguém.
Fitei o meu novo lar, e senti ele se pondo ao meu lado enquanto retirava as minhas malas e fechava o porta-malas.
-Adeus, senhorita Collins - ele disse em um tom baixo, e eu apenas assenti, sentindo vontade de acordar desse pesadelo e ter os meus pais me abraçando, e dizendo que tudo ficará bem.
Aprendi da pior forma que o futuro é uma caixinha de surpresas, a poucos dias eu tinha uma vida, agora só me restam duas malas e uma dor insuportável dentro do peito, não importa oque eu faça, nada trará a minha vida de volta, esse pesadelo se tornou a minha realidade.
Senti o carro se deslocar por trás de mim, e um calafrio me subir a espinha. Enfim malas, agora seremos só eu eu você.
* * *
Adentrei o enorme ambiente, encontrando armários muito bem fechados e impecáveis, alguns alunos circulavam pelos corredores apesar de quase todo mundo estar em seus dormitórios.
Meu olhar percorreu por cada metro quadrado daquele lugar, e não podia ser mais luxuoso, escadas com degraus de vidro, piso impecável, portas brancas para todos os lados, armários todos cor vermelho e branco, e todas essas outras coisas que só se vê em filmes, aquele era o colégio que eu sempre sonhei em estudar.
Encarei por umas duas vezes o papel a minha mão, que indicava o número do meu quarto, "335 b" fala sério, nem que eu rodasse esse colégio inteiro eu acharia o meu próprio quarto.
O que eu mais temia naquele momento era ter uma colega de quarto, como eu poderia suportar conviver com alguém durante 24 horas sem surtar ou cometer um homicídio?
Ajustei pela milésima vez a minha saia, que sempre insistia em ficar curta demais, e segui em direção aos quartos, sei que demoraria horas á procura, mas eu já sabia que vir a esse lugar a essa hora da noite ia dar alguma merda.
Passei por vários quartos da ala b, até chegar ao último do corredor, e me dar conta que ele termina no quarto "288", quantos corredores devem haver por aqui?
Subi as escadas a minha frente, entrando em um novo corredor, ainda na ala b, e após uns bons 20 minutos procurando o maldito quarto, finalmente pude respirar pesadamente e descansar.
"SeuNome Collins" estava escrito em letras grandes na porta, um leve sorriso se formou em meus lábios ao notar que não havia nenhum outro nome na porta, eu realmente não estou querendo me socializar.
Abri a porta lentamente e com cuidado, assim que a luz forte e clara do corredor deu de encontro com o amplo quarto escuro, um reflexo iluminou grande parte do quarto, me dando visão de tudo ao meu redor. Fechei a porta logo atrás de mim, e liguei a luz, observando cada canto daquele quarto e me admirando mais, tudo parecia tão novo e diferente do que eu esperava.
Por mais que eu fosse ficar sozinha naquele quarto, haviam duas camas, e uma onda de decepção passou por meu corpo, isso significaria que até o fim dos últimos três anos, alguém poderia vir para cá, e minha vida se tornará muito pior do que já está.
Se é que há como piorar.
Desfiz a minha mala sem dar importância a qualquer desorganização, apenas joguei as minhas roupas dentro do enorme guarda-roupas de cor branca, que dava contraste com o piso, e caminhei até o banheiro.
Ele era muito mais luxuoso do que pensei, tudo tão impecável e perfeitamente limpo, com direito a pia de porcelana e banheira hidromassagem.
Eu realmente queria me sentir feliz com esse tipo de luxo, de verdade. Queria aproveitar tudo isso como todos aqui devem fazer, queria rir sem motivo algum, me enturmar, fazer amizades, e fazer esses três anos inesquecíveis, de forma que quando eu alcançar a maior idade não se esqueça de nada aqui.
Eu realmente queria isso.
Mas eu não conseguia, por mais que eu me esforçasse, eu me encontro devastada por dentro, estou amargurada por saber que nunca mais terei a minha vida de volta. não consigo aceitar a o fato de que todas as pessoas que estavam ao meu lado foram embora, de que meus pais não estão mais aqui, e de que quando terminar o maldito colegial, eu não terei amigos, família ou alguém que ao menos goste de mim. Serei apenas uma pessoa maior de idade que não tem um sentido para viver. Dias bons? apenas em lembranças.
Odeio o fato de ainda estar viva.
Encarei a enorme banheira a minha frente, uma rápida ideia passou por minha cabeça, mas eu a ignorei.
Voltei ao quarto pegando a minha toalha, e roupas que eu possivelmente usaria, voltando ao banheiro e as empindurando sobre um porta- toalhas que ali havia.
Me despi rapidamente, e liguei o chuveiro, sentindo a água quente em contanto com o meu corpo, o vapor relaxava os meus músculos e me davam a sensação de prazer momentânea.
Peguei um pote de shampoo que estava ao lado da banheira, e o despejei sobre meus cabelos, esfregando o couro cabeludo, e em seguida o resto do meu corpo.
Após finalizar o banho, sequei os meus cabelos e o meu corpo. em seguida, vesti um jeans preto, uma blusa branca, e uma blusa de frio azul marinho que suas mangas cobriam os meus pulsos, me encarei o meu reflexo no espelho, e abri a porta, desligando as luzes.
Eu tinha noção de que já era tarde, e que amanhã eu teria aulas logo cedo, mas eu não tinha sono, não tenho uma noite de sono decente desde aquele maldito acidente, e provavelmente se eu ficar sozinha por mais de dez minutos em um quarto, eu voltarei a chorar, e se tem uma coisa que eu venho fazendo a semana inteira é me trancar no quarto e simplesmente desabar.
Atravessei o enorme corredor, parei no início da escada tendo uma visão de como aquele lugar era enorme, tudo ali parecia ser feito sob medida para cada aluno. desci as escadas lentamente, evitando fazer qualquer barulho que acordasse os demais alunos.
Andei em passos rápidos, passando por corredores, refeitórios, armários de todos os tipos, e uma biblioteca, havia muito mais lugares por aquele colégio, mas minhas pernas não aguentariam o esforço de rodar esse lugar inteiro, aquilo parecia mais um labirinto interminável.
Ouvi um barulho abafado de algo bater contra o chão, o impacto fazia com que eu sentisse algo tremer por debaixo de meus pés, e aquele som se repetia por várias e várias vezes. por alguns bons minutos ele parou, e depois o som de gritos histéricos dominou o lugar, fechei os meus olhos e tentei acalmar o meu coração. eu não diria que seria algo assustador ou sinistro, mas quando se está no meio da madrugada, até seu próprio reflexo te traz medo.
O som de algo leve bater contra o chão voltou, e sem me dar tempo de novas reações os gritos histéricos voltaram, notei que eles viam de uma enorme escadaria, tentei por inúmeras vezes me convencer de que não seria uma boa ideia descer aquelas escadas, mas a minha curiosidade simplesmente ignorou todas as ordens do meu sub-cociente.
Mas afinal, se eu me escondesse bem, e ninguém me visse por lá não haveria problemas.
Caminhei em direção a escadaria, descendo com cuidado cada degrau, a adrenalina pulsava sobre minhas veias e coisas sinistras circulavam a minha mente naquele momento.
Ao chegar no andar debaixo percebi que não era nada do que eu estava pensando, ao invés de coisas sinistras e assustadoras, só havia um garoto no centro de uma enorme quadra, jogando basquete e todas as vezes que ele fazia alguma cesta, um grupo de garotas desocupadas comemoravam.
Eu preferia ter visto coisas assustadoras por aqui, sem dúvidas seria menos tedioso.
Cruzei os meus braços, encostando a lateral de meu corpo em uma pilastra que ficava nos fundos da quadra, cruzei as minhas pernas e respirei fundo, ninguém me veria ali.
Observei o jogo e o quão tosco aquilo me parecia, por que elas acordaram a essa hora apenas para ficar gritando por um garoto que não dá a mínima pra nenhuma delas? pra quê se diminuir dessa maneira?
Por um minuto, me flagrei fitando o corpo do garoto logo a minha frente, enquanto ele se preparava para fazer mais uma cesta e ouvir os gritos histéricos das garotas. sua camisa branca e comprida, ficava levemente apertada em seus braços, deixando evidente que por trás de suas vestimentas havia um belo corpo definido. Sua camisa tinha os três primeiros botões desabotoados, deixando uma área extremamente desejada pelas mulheres a mostra, e não negavam o quanto o garoto era provocante. Revirei os olhos, e caminhei de volta até o meu quarto.
Meus passos pareciam infinitos em meio ao enorme chão gelado que eu teria que percorrer até voltar ao me quarto, me auto-encorajei a subir novamente as escadas e voltar para o meu quarto.
Após chegar ao corredor, demorei uns bons cinco minutos procurando por meu quarto, já que eu ainda não havia decorado a sua localidade.
Novamente dei as costas para a porta, e deitei sobre minha cama, era tão grande e macia, com travesseiros de todas as partes do mundo espalhados por sua extensão.
Fechei os meus olhos, antes que eu me permitisse a voltar a ter lembranças indesejadas que certamente me entristeceriam.
Relaxei o meu corpo, sentindo sono pela primeira vez naquela semana, eu finalmente dormiria, e nada iria atrapalhar aquilo.
Quem me dera se isso fosse verdade, pois foi só eu fechar os olhos que gemidos falhos e roucos invadiram o quarto, e aquilo passou a ser um tanto quanto constrangedor. os gemidos ficavam cada vez mais altos, e uma voz aguda pronunciando "Justin" encheu o ambiente, que tipo de colégio era aquele?
Respirei fundo, com uma vontade grande de ir a porta ao lado e acabar de vez com aquilo, mas o fato de se estar deitada em uma cama grande e relaxante, não facilita nada.
Por que aquilo estava acontecendo? por que justo quando eu consigo sentir sono alguém precisa estragar a minha noite de vez? oque eu fiz pra passar a viver esse inferno?
Suspirei por umas três vezes, e me encorajei a tomar alguma atitude.
- Será que dar para o casalzinho calar a boca?- fui tomada pela raiva e disse em tom alto para que eles pudessem ouvir.
Um silêncio dominou o ambiente, talvez eles haviam se assutado e resolveram parar por ali?
- Não... N-Não enche! - uma voz masculina se pronunciou, e logo voltaram os gemidos.
Uma garota gemia alto o nome de um tal Justin, e eu tentei ignorá-los novamente e manter a calma, mas aquilo não podia ficar mais irritante, eu mal conseguia fechar os olhos.
Sentia uma vontade grande de invadir o quarto ao lado e calar a boca dos dois, mas eu ainda tinha esperança de conseguir isso sem me levantar.
- só mais um gemido e eu vou aí - ameacei.
- só mais uma reclamação e eu vou aí!- ele provocou.
Pensei por alguns segundos, até reformular uma resposta a altura naquela discussão.
- Então vem, será um prazer quebrar a sua cara! - disse alterada.
- Quebrar a minha cara? isso vai ser antes ou depois de você implorar pra que eu te faça gemer também?
Não respondi, não iria discutir com aquele idiota, mas quando eu descobrir quem é esse tal Justin, ele vai aprender a não se meter comigo.
Mal deu cinco minutos e eu ouvi alguém bater na porta com certa brutalidade, é parece que ao contrário de mim, ele quer mesmo discutir.
Me levantei, sentindo a minha cabeça latejar e um certo ponto em meu pescoço ficar dolorido, e abri a porta lentamente.
Meu corpo quase veio ao chão, quando meus olhos encontraram o seu de cueca box e olhos castanhos a minha frente, senti um calafrio me percorrer e minhas mãos suavam frio naquele momento.
Era ele.
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